O APÓSTOLO MATEUS
De todos os evangelhos, o de Mateus tem sido,
provavelmente, o de maior influência. A literatura cristã do segundo século faz
mais citações do Evangelho de Mateus do que de qualquer outro. Os pais da
igreja colocaram o Evangelho de Mateus no começo do cânon do NT provavelmente
por causa do significado que lhes atribuíam. O relato de Mateus destaca Jesus
como o cumprimento das profecias do AT. e acentua que Jesus era o Messias
prometido.
O Evangelho de Mateus diz-nos que Jesus se aproximou
deste improvável discípulo quando ele esta sentado em sua coletoria. Jesus
simplesmente ordenou a Mateus: “Segue-me!” Ele deixou o trabalho pra seguir o
Mestre (Mt 9.9).
Curiosidades
da tradição judaica sobre os publicanos:
A Bíblia não revela qual motivo levou Levi (Mateus) a aceitar um trabalho tão desprezado pelos judeus, principalmente pelos que respeitavam a autoridade religiosa dos fariseus e seus escribas que observavam a Tora (O Pentateuco de Moisés) e o Talmude (a tradição judaica de forma oral) das quais viam as bases para a desobediência e consequentemente as punições divinas direcionadas aos publicanos e aos seus associados.
Os judeus consideravam impuro o dinheiro dos cobradores
de impostos, por isso nunca pediam troco. Criam que comprar algo com este
dinheiro era comprar algo que seria desventurado. Note que os principais dos
fariseus não aceitaram o dinheiro de Judas quando o quis devolvê-lo porque era
preço de sangue, e compraram um campo para que o próprio Judas Iscariotes fosse
enterrado nele como amaldiçoado, com o dinheiro que Judas jogou no templo. O
dinheiro dos publicanos seguia o mesmo principio: era mau presságio para um
judeu que seguia a tradição.
Se um judeu não tinha a quantia exata que o coletor exigia, ele emprestava de um amigo, se não achasse amigo com troco, preferia perder o troco, pois não pagar impostos era perigoso demais. Um sonegador de impostos pego no ato era penalizado com o confisco de todos os seus bens. A pena cobrava muito além do sonegado e chegava ao ponto de retirar seus filhos para serem escravos até mesmo para espetáculos de gladiadores contra feras nas arenas do coliseu.
Se um judeu não tinha a quantia exata que o coletor exigia, ele emprestava de um amigo, se não achasse amigo com troco, preferia perder o troco, pois não pagar impostos era perigoso demais. Um sonegador de impostos pego no ato era penalizado com o confisco de todos os seus bens. A pena cobrava muito além do sonegado e chegava ao ponto de retirar seus filhos para serem escravos até mesmo para espetáculos de gladiadores contra feras nas arenas do coliseu.
Os judeus desprezavam os publicanos como agentes do
odiado império romano e do rei títere judeu. Considerados amaldiçoados pela
lei, hereges de profissão, não era permitido aos publicanos prestar depoimento
no tribunal, e não podiam pagar o dízimo de seu dinheiro ao templo.
Um judeu que seguisse as tradições judaicas observando a lei, não se associaria com publicanos (Mt 9.10-13).
Um judeu que seguisse as tradições judaicas observando a lei, não se associaria com publicanos (Mt 9.10-13).
Uma coisa curiosa era a coletoria em si. Muitos imaginam que a “coletoria” era um gabinete, um local qualquer, fixo, de cobrar impostos, mas não; era sim uma mesinha de madeira com pesos e medidas, com uma alça de couro que o publicano colocava nos ombros e a carregava de um lugar ao outro.
COMO
ERA COBRADO OS IMPOSTOS PARA ROMA
Herodes, o Grande, foi nomeado rei dos judeus, quando Roma conquistou a Palestina, e tinha ele como rei, a obrigação de pagar imposto sobre a terra e sua produção, e também imposto sobre cada cabeça, chamados respectivamente de “tributum soli” e“tributum capitis”.
Para Herodes, o odiado rei títere judeu, era
vantajoso ser súdito de César e pagar os impostos porque, não tendo ele sangue
real, pois não era descendente de Davi, permanecia no poder e ainda contava com
a proteção do exército romano.
Para facilitar as cobranças dos tributos e manter a
ordem e a paz com Roma, Herodes vendeu aos judeus mais ricos, concessões
públicas que permitiam a cobrança de impostos em suas regiões. Os donos dessas
concessões e que cobravam os impostos eram chamados de “publicanos”, eles por
sua vez contratavam outros empregados judeus para cobrarem os impostos locais
ou alugavam suas praças em miniregiões.
Todos os que cobravam impostos, fossem patrões e
empregados, eram chamados de “publicanos”. Do latim publi (raiz da palavra
público) + cânus ( de cãs, cabelos brancos). A obrigação deles era de serem
homens respeitáveis, honestos, fiéis guardadores do patrimônio público. Mas
contrariando essas expectativas, os publicanos costumavam ser desonestos e
cobravam além do que era exigido por Roma, enriquecendo com a diferença. Pela
exploração que cometiam os publicanos eram odiados e desprezados pelos demais
judeus, os mais religiosos os consideravam “imundos”, porque negociavam com os
“gentios” (romanos), eram tidos pela população como ladrões, corruptos,
traidores, lesas-pátrias e cães púbicos a serviço de Roma e ganharam até o
apelido de “publicanis”, onde canis é cão.
O
chamado de Mateus foi diferente dos demais
Mateus o apóstolo que, pela comparaçãode Mt 9.9 com
Mc 2.14 e Lc 5.27,28, é identificado com Levi, o filho de Alfeu. Além disso, o
nome de Mateus aparece em todas as quatro listas dos apóstolos (Mt 10 – Mc 3 –
Lc 6 – At 1) e o de Levi em nenhum. Mateus era publicano, ou recebedor da
alfândega nos domínios de Herodes Antipas, em Cafarnaum, porto do mar da
Galiléia. Foi nesta cidade que Jesus habitou, depois de ter saído de Nazaré – e
provavelmente tinha Mateus ouvido nesta mesma povoação os discursos do Divino
Mestre e observado os Seus milagres. Deste modo teria sido preparado para
obedecer à chamada de Jesus. Com efeito, estando sentado na sua tenda à beira
da estrada, tudo deixou para o seguir (Mt 9.9). Depois ele mostrou a sua
afeição ao Mestre e o seu interesse pela felicidade espiritual dos seus antigos
companheiros, convidando um grande número de publicanos para uma festa, em que
se oferecia a ocasião de ouvir o Divino Pregador. Foi escolhido por Jesus
Cristo para ser um dos doze apóstolos (Mt 10.3), e estava com os outros
discípulos no cenáculo depois da ascensão (At 1.13). A humildade de Mateus pode
ser reconhecida no evangelho que tem o seu nome. Ao enumerar os apóstolos, ele
se cognomina ‘Mateus, o publicano’ (Mt 10.3), não suprimindo o seu primeiro
emprego. É pelo que diz Lucas, e não pelo que Mateus escreve, que nós sabemos
que ‘ele deixou tudo’ para seguir a Jesus, e ‘Lhe ofereceu um grande banquete
em sua casa’ (Cp. Mt 9.9,10 com Lc 5.27 a 29).
Mateus ( o publicano Levi) como os demais discípulos, também se levantou e seguiu, porém, diferente dos demais, Mateus não poderia voltar atrás se Jesus fosse mais um lunático se proclamando o Messias. Abandonar a coletoria era quebrar a ponte atrás de si e confiar plenamente naquele que o chamava.
Todos os discípulos eram pecadores no momento da
convocação, porém, eram israelitas em quem “não
havia dolo” (Jo 1.47). Já Mateus não; era um “publicano”, que na cultura da
época era sinônimo
de ladrão, assassino, saqueador, assaltante, amaldiçoado, etc.,
os publicanos eram pessoas das quais se afirmava: “São amaldiçoadas!” (Jo
7.49). Se tornar publicano era conscientemente escolher:
• viver separado de Deus, do povo, da pátria;
• cometer consciente e continuamente pecados graves
contra Deus, o povo e a pátria;
• suportar o desprezo de todas as pessoas que se
consideravam decentes;
• ser castigado eternamente no inferno, segundo a
concepção judaica.
Com esse currículo, o que Mateus poderia fazer se
Jesus fosse uma farsa? Com certeza não seria aceito no antigo emprego e
dificilmente pelo povo Judeu e fariseu que o rejeitava como amaldiçoado.
Viveria separado da religião, do povo e da pátria e sem nenhum denário no bolso.
Jesus não impressiona só os fariseus ao chamar um
publicano para seu círculo íntimo de amigos, provavelmente, os próprios
discípulos ficaram escandalizados, Schlatter diz:
É provável que também em Cafarnaum os publicanos de
lá tinham de taxar os peixes que eram trazidos à cidade. Desse modo Mateus,
antes de ser coletor, já deve ter sido conhecido dos pescadores que
acompanhavam Jesus. Aceitar um publicano no círculo dos doze causou
permanentemente um forte escândalo entre os judeus, nos quais vigorava uma
intensa aversão aos publicanos, circunstância da qual Mateus esteve sempre
consciente.
Leia o chamado de Mateus (Mt 9.9-13; Mc 2.13-17; Lc
5.27-32).
Os judeus dividiam os cobradores de impostos em duas
classes. a primeira era a dos gabbai, que lançavam impostos gerais sobre a
agricultura e arrecadavam do povo impostos de recenseamento. O Segundo grupo
compunha-se dos mokhsa era judeus, daí serem eles desprezados como traidores do
seu próprio povo. Mateus pertencia a esta classe.
Evidentemente que já que o povo judeu comum não se
aproximava de Levi por ser publicano, quem se aproximava era o povo excluído da
sociedade, isto é, ladrões, assassinos, incrédulos, prostitutas, enfermos, e
publicanos; estes eram os que faziam parte do seu circulo social, o que mais
ainda o desqualificava a vista dos demais.
É nesse cenário de total desprezo social e religioso
é que Jesus encontra Levi e o convida a seguir com Ele, deixando todo o povo,
os lideres religiosos e provavelmente os próprios discípulos abismados. Levi,
um homem evidentemente apoiado financeiramente, mas, destruído no seu intimo
viver. Evidentemente, Mateus era de algum recurso financeiro, porque ele deu um
banquete em sua própria casa. “E numerosos publicanos e outros estavam com eles
à mesa” (Lc 5.29).
Por causa da natureza de seu trabalho, temos certeza
que Mateus sabia ler e escrever. Os documentos de papiro, relacionados com
impostos, datados de cerca de 100 dC, indicam que os publicanos eram muito
eficientes em matéria de cálculos.
Mateus pode ter tido algum grau de parentesco com o
discípulo Tiago, visto que se diz de cada um deles ser “filho de Alfeu” (Mt
10.3; Mc 2.14). Às vezes Lucas usa o nome Levi para referir-se a Mateus (Lc
5.27-29). Daí alguns estudiosos crerem que Jesus lhe deu um novo nome, que
significa “dádiva de Deus”. Outros sugerem que Mateus era membro da tribo
sacerdotal de Levi.
Eusébio (Hist. Eccl. iii, 24) diz que Mateus, depois de pregar aos seus próprios conterrâneos, foi para outras nações. E Sócrates (Hist. Eccl i, 19) diz que foi a Etiópia o centro dos seus trabalhos. A maior parte dos primitivos escritores afirmam que ele teve a morte de um mártir. Não sabemos, no entanto, o que aconteceu com Mateus depois do dia de Pentecostes.
Fontes:
http://biblia.com.br/dicionario-biblico/m/mateus/
O Evangelho Reunido pág. 35 Juanribe
Pagliarin
Bíblia Almeida Fiel e Corrigida
;
Bibliografia .Bíblia Sagrada – tradução
João Ferreira de Almeida .Bíblia em Inglês – King James .Anthony J. Saldarini é
especialista em História Antiga e Estudos Bíblicos e professor de Teologia do
Boston College, USA, autor do livro Matthew’s Christian-Jewish Community.
.Richard A. Horsley é professor de Línguas Clássicas e Religião na Universidade
de Massachusetts, Boston, USA.